terça-feira, 14 de junho de 2011

RENÉ DESCARTES DE MEDEIROS

O PARAIBANO DO PARIS

Nelson Tangerini


No final de 2009, ano em que a Editora Nitpress relançava o livro Vida Apertada [de 1926], de Luiz Antônio Gondim Leitão, um dos maiores sonetistas satíricos da língua portuguesa, descubro em meu blog um recado de Rejane Medeiros, filha de René Descartes de Medeiros, um dos poetas da Roda do Café Paris, aquele movimento literário que marcou a história de Niterói, em capital fluminense, nos anos XX do século passado.
Rejane e eu passamos a trocar figurinhas poéticas, falando da velha Niterói e seus poetas parisienses. Ela, entusiasmada, falava de seu querido pai e de sua mãe, também paraibana, admiradora da obra literária do marido.
Membro da roda literária do Café Paris, René, um homem fino, sedutor, o galã da Roda, era funcionário da Receita Federal, Ministério da Fazenda, e deixou dois livros publicados: Oração aos seios e Caminhada. E um outro inédito, manuscrito.
Naqueles anos XX, René escreve para o amigo Tangerini o soneto Natureza. E Tangerini, mais tarde, escreve ao amigo o soneto René Descartes de Medeiros, mostrando que o paraibano traçava todas, “desde a mais bela dama futurista ao mais esquisito sacatrapo”.
Após a morte de René, aparece em casa de D. Maria de Lourdes Almeida de Medeiros, viúva do poeta, um médico de Niterói que se dizia “parisiense” e amigo de seu marido.
Inocente, e fragilizada, D. Lourdes deixa que ele levasse o livro inédito, com sonetos manuscritos de Medeiros. Esse médico, que, segundo ela, se chama Sílvio, promete devolver-lhe logo os originais, mas jamais voltou à sua casa para devolver esta obra rara e valiosa para a família e para a história literária de Niterói.
Filha única de Medeiros e de D. Lourdes, Rejane ainda sonha com a devolução dos sonetos do saudoso pai. E me pergunta se tenho em meu arquivo o soneto alexandrino Harmonia Bárbara. Digo que tenho, ela fica encantada e me pede que eu lha envie por e-mail uma cópia do texto
Ei-lo:



“No lírico gingar dos mastros e das quilhas,
uma nova harmonia espirala-se no ar...
São notas de volúpia e de amargura, filhas
do vai-vem voluptuoso e irrequieto do mar!

Se a caravela rompe a distância das milhas,
agitada é a canção, wagneriana, solar;
mas, se está presa a um cais, por cabos, por presilhas,
estrangula a canção de gemidos sem par!...

São notas desiguais, músicas divergentes,
tendo origem na dor de duas almas doentes,
que eu, sentindo, comparo a humanas maravilhas...

Wagner, pelo alto mar, no horror dos temporais,
e o doentio Chopin, na murada de um cais
- no lírico gingar dos mastros e das quilhas!...

René Descartes de Medeiros, um dos grandes sonetistas do Café Paris, ao lado de Nestor Tangerini, Brasil dos Reis e Luiz Leitão, nasceu em Areia, Paraíba, em 2 de março de 1900, e faleceu no Rio de Janeiro em 1 de dezembro de 1957.

Nelson Tangerini, 56 anos, é jornalista, escritor, poeta, compositor, memorialista, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, da ALB, Academia de Letras do Brasil, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e da UBE, União Brasileira de Escritores.

nmtangerini@hotmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br

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