domingo, 25 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
NIRTON TANGERINI
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
NELSON TANGERINI
1984 E DEPOIS (1)
“Os ricos farão tudo pelos pobres,
menos descer de suas costas”.
Tolstoi.
Como conjugar o verbo amar,
se o amor
foi banido deste mundo?
O coração frio
não bate mais,
não tem mais emoções,
esperanças não têm mais.
Só a descrença
e o ceticismo
somam-se
mais e mais e mais...
Só os olhos
filmam
o que ninguém quer ver:
homens
comprometidos
comprados
metidos
indiferentes
vendendo o produto final
da insatisfação social.
Como conjugar o verbo amar,
se bombardeios e tiroteios
invadem a minha sala de estar?
Como conjugar o verbo amar,
se favelados famintos
me espiam, pela TV,
na hora do jantar?
Como conjugar o verbo amar,
se “a inflação tentacular” (2),
sem zelo,
proíbe meus amigos
de fazê-lo?
É poibido conjugar o verbo amar:
o capitalismo, em silêncio,
quer nos sufocar.
Autor: Nelson Tangerini
Do livro CIDADÃO DO MUNDO,
Editora Achiamé,
Rio, 1996.
Obs.:
(1) 1984: livro de George Orwell;
(2) “a inflação tentacular”: Citando
Carlos Drummond de Andrade.
“Os ricos farão tudo pelos pobres,
menos descer de suas costas”.
Tolstoi.
Como conjugar o verbo amar,
se o amor
foi banido deste mundo?
O coração frio
não bate mais,
não tem mais emoções,
esperanças não têm mais.
Só a descrença
e o ceticismo
somam-se
mais e mais e mais...
Só os olhos
filmam
o que ninguém quer ver:
homens
comprometidos
comprados
metidos
indiferentes
vendendo o produto final
da insatisfação social.
Como conjugar o verbo amar,
se bombardeios e tiroteios
invadem a minha sala de estar?
Como conjugar o verbo amar,
se favelados famintos
me espiam, pela TV,
na hora do jantar?
Como conjugar o verbo amar,
se “a inflação tentacular” (2),
sem zelo,
proíbe meus amigos
de fazê-lo?
É poibido conjugar o verbo amar:
o capitalismo, em silêncio,
quer nos sufocar.
Autor: Nelson Tangerini
Do livro CIDADÃO DO MUNDO,
Editora Achiamé,
Rio, 1996.
Obs.:
(1) 1984: livro de George Orwell;
(2) “a inflação tentacular”: Citando
Carlos Drummond de Andrade.
NELSON TANGERINI EM CD
Em 2002, a banda SUBURBLUES, liderada por Maurício da Cunha Silveira, meu amigo, gravou minha música ENERGIA AZUL, escrita de parceria com Adalberto Barboza. Nossa canção é a 7a. do cd. No dia 3 de julho [de 2011], Maurício Silveira preferiu nos deixar. Com lágrimas nos olhos, faço, aqui, uma homenagem a Maurício. Descanse em paz, meu querido amigo. NMT.
DINAH MARZULLO TANGERINI
NELSON TANGERINI
NELSON TANGERINI
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
NELSON TANGERINI
QUANDO EU FIZER 64 ANOS
Nelson Tangerini
Um amigo fez 64 anos. John Lennon e George Harrison não chegaram aos 64. John foi assassinado em 1980, aos 40 anos; George, o caçula dos quatro, fumante inveterado, foi derrotado em 2001, aos 58 anos, pelo câncer. Paul McCartney e Richard Starkey [Ringo Starr] ultrapassaram a marca da canção, composta por Paul e continuam na estrada, alimentando nossos sonhos.
Quando escutávamos esta fatídica música, - que pretensão! - pensávamos que fazer 64 anos era um coisa distante, quando perderíamos os cabelos e estaríamos rodeados de esposa, filhos e netos. Era apenas uma vaga e longínqua ideia, nada mais.
Foi uma festa Beatle, a nossa, com direito a canções dos rapazes de Liverpool e de outros velhacos dos anos 1960.
Olhávamos uns para os outros e nos divertíamos diante do que somos hoje e do que fomos: jovens roqueiros que pensavam que mudariam o mundo com apenas dois dedos indicando paz e amor.
Caminho para os 60. Ainda pago passagem nos ônibus. Mas fico imaginando como serei aos 64, ouvindo Beatles e aquela turminha dos “Anos 60”. Provavelmente, Paul e Ringo ainda estarão por aqui, de bengalinha, talvez com mais de 80 anos. Estarão cantando, ainda? Esperamos que sim. Esperamos que não apareça outro louco varrido para apertar o gatilho e apagar o que restou de um sonho, digo, dos Beatles.
A felicidade, temos certeza, não é uma arma fumegante.
Nelson Tangerini [Foto], 56 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, memorialista, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], da ALB, Academia de Letras do Brasil, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e da UBE, União Brasileira de Escritores.
nmtangerini@hotmail.com , nmtangerini@yahoo.com.br
www.ube.org.br
NELSON TANGERINI
JOHN LENNON NO CÉU COM DIAMANTES
Nelson Tangerini
Roqueiro inveterado, meu amigo Adalberto (1) convenceu-me a ir com ele a um centro de mesa.
Juro que não entendi. Mas ele insistia no assunto.
- Eu explico. Li, na Folha Espírita, que um médium inglês recebeu o espírito de John Lennon.
Ele não sabia precisar a data do jornal e o nome do médium. Mas acreditava naquilo, no conteúdo daquela psicografia. E estava convencido de que o ex-Beatle continuava fazendo música no além.
- Ele enviou uma mensagem para Yoko. Disse que continuava fazendo música. E agradeceu a Elton John pela belíssima canção, Empty Garden, que o cantor dos grandes óculos compusera para ele.
- Mas você acha que ele está fazendo música do outro lado?...
- Sim, pois John está montando uma super banda.
- Super banda?
- Sim, uma super banda. Ele convidou Sid Vicious, baixo; Pete Ham, guitarra solo; Ian Stewart, teclados, e Keith Moon, bateria, para tocarem com ele.
- Mas você tem uma grande imaginação. Neste caso, como estariam Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Elvis, Mamma Cass, John Boham, Bill Halley, Karen Carpenter...?
- Estão todos produzindo. Janis não gostava dos Beatles. Ela está montando uma banda com Brian Jones, Jimi, Boham... Elvis e Bill também estão formando suas bandas...
Bem, eu já estava me sentindo um vovô, com toda aquela constelação desfiada por Adalberto. Mas eu me sentia orgulhoso e feliz. Foi uma época de contestação, uma época frutífera, e eu sobrevivi a tudo. Mas não estava disposto e nem interessado em assistir aos concertos dessas bandas...
- Mas... como você pode provar isto? – perguntei.
- Eu tenho intuição, bicho!
- Ah, vá lá!...
Venha comigo. Vamos a um centro espírita. Quero que você testemunhe isto. Vai ser um ti-ti-ti na imprensa. Tipo: Bomba, bomba...
Era bom mesmo que Ibrahim Sued estivesse aqui por baixo!
Tendo consideração com o amigo, fui com Adalberto ao centro espírita mais próximo. Ele vive no mundo da música... Talvez pudesse mesmo falar com os deuses.
A pedido de Adalberto, os médiuns se concentram...
E quem disse que a mensagem vinha?!
Todos insistiam. Não podíamos sair dali sem a tal mensagem. Não podia desapontar o amigo. E, se desse, eu pediria até um autógrafo.
Um dos componentes da mesa nos disse que as coisas não eram bem assim... Que não podíamos forçar a barra...
De repente, um rapaz, atendendo ao pedido de Adalberto, incorpora um espírito. Era inglês. Fiquei entusiasmado. É o ex-Beatle!, pensei. Mas... , para a nossa decepção, não, não era John. E deixou a seguinte psicografia:
- John Wiston Lennon e sua banda, Super Nova, estão excursionando por outras dimensões.
E assinou:
- Brian Epstein. (2)
...
(1)Adalberto Barboza – Autor de ENERGIA AZUL, de parceria com Nelson Tangerini.
(2)Brian Epstein – Ex-empresário dos Beatlles
...
Nelson Tangerini, 56 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, da UBE, União Brasileira de Escritores, e da ALB, Academia de Letras do Brasil.
nmtangerini@hotmail.com , nmtangerini@yahoo.com.br
www.ube.org.br
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
ANTÔNIA MARZULLO
NELSON TANGERINI
UMA LINDA MULHER!
Nelson Tangerini
Não, amigos, não estou falando de um filme estrelado por Julia Roberts e Richard Gere; mas sobre Uma Linda Mulher que conheci há alguns anos, numa movimentada rua do Rio de Janeiro, e que vem me perturbando o sono.
Há muito deixei de ser poeta – a fonte inspiradora secou, não tenho mais sonhos -, passei a ser o frio cronista que vos escreve; o simples cidadão do mundo que observa o ruído das ruas de nosso planeta.
Vivo, porém, ultimamente, a contemplar o rosto da mulher amada, como se estivesse diante da Mona Lisa. De súbito, o amor me toca, põe em minh´alma sua porção mágica. Não lhes diria uma só palavra se por dentro de mim não incendiasse essa chama que me queima o peito e me inquieta diante de uma folha de papel em branco.
Se fosse “O Poetinha” Vinícius de Moraes, faria mil versos de amor - para que ela me percebesse, para que ela caísse no meu laço, no meu abraço, no meu amasso, para que ela fosse a minha namorada.
Apaixonado e atordoado com a sua beleza, eu poderia entrar agora num bar e beber todas – por sua causa.
Não, não farei isto. Não sou romântico. Prefiro embriagar-me de sua beleza, estampada em suas fotografias.
Ela é realmente muito bonita e está rodeada de flores, num mundo de segredos e mistérios – prato cheio para um poeta simbolista.
Um poeta romântico a idealizaria como a musa inatingível, inalcançável.
Vivemos na mesma cidade e estamos distantes e isto me leva a invadir a produção romântica daqueles poetas que morriam jovens – de tuberculose.
Ela tem meu telefone. Por que não me liga? Por que não encurta este espaço que existe entre nós?
Percebi seu rosto e seus cabelos no exato momento em que a conheci. Buzinas e freadas de ônibus e carros e vozes mil não me impediram de ouvir e contemplar sua fala mansa e mágica.
Por um tempo, perdi-a de vista. Pensei nunca mais tornar a vê-la. “Quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas”. Pois bem, ouvi estrelas, quase plagiei Bilac, mas não perdi o senso. E, para minha felicidade, vi-a, recentemente - mais linda e mais cândida e casta.
Direis agora: - Tresloucado amigo, não tens a mínima chance de conquistá-la. Olha-te no espelho. És um mísero e reles rabiscador de papéis. És feio, barrigudo, calvo e míope. Tens uns óculos de armação preta e horrorosos no meio das fuças. A miopia te impede de ver a realidade, poeta.
A realidade, aqui, citada pelo nosso nobre amigo, - leia-se -, é a total ausência de sentimentalismo, do romantismo piegas, que levou muitos poetas românticos a estudarem mais cedo “a geologia dos campos-santos”. É o fruto, talvez, das leituras e releituras de Machado de Assis e Eça de Queiroz. Ou, mais recente, de Nelson Rodrigues.
Como sonhar não é ainda proibido, e não se lê o que anda estampado no cérebro e no coração do outro, vivo a sonhar apaixonadamente com esta deidade que perturba o meu sono.
Não direi seu nome, não direi onde mora, nem direi onde trabalha. Não quero expô-la. Longe de mim, incomodá-la em seu castelo na montanha ou nas suas horas de labuta. Ela lerá, descompromissadamente, por certo, esta minha crônica, um dia desses, e saberá que este velho e chato escritor lhe dedicou algumas pobres linhas.
Graciosa e bela, a minha musa me fez sonhar, deu sal à minha vida, me fez estar aqui, neste momento, falando baixinho, falando de amor, esquecendo até do futebol, ouvindo e plagiando O Poetinha, escrevendo essas tolices.
Plagiando o poeta português Fernando Pessoa, só as pessoas ridículas nunca escreveram poesias, crônicas e cartas de amor.
Nelson Tangerini, 56 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 Nestor Tangerini, da ALB, Academia de Letras do Brasil, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e da UBE, União Brasileira de Escritores.
nmtangerini@yahoo.com.br, n.tangerini@uol.com.br , nmtangerini@hotmail.com
http://nelsontangerini.blogspot.com/
Nelson Tangerini
Não, amigos, não estou falando de um filme estrelado por Julia Roberts e Richard Gere; mas sobre Uma Linda Mulher que conheci há alguns anos, numa movimentada rua do Rio de Janeiro, e que vem me perturbando o sono.
Há muito deixei de ser poeta – a fonte inspiradora secou, não tenho mais sonhos -, passei a ser o frio cronista que vos escreve; o simples cidadão do mundo que observa o ruído das ruas de nosso planeta.
Vivo, porém, ultimamente, a contemplar o rosto da mulher amada, como se estivesse diante da Mona Lisa. De súbito, o amor me toca, põe em minh´alma sua porção mágica. Não lhes diria uma só palavra se por dentro de mim não incendiasse essa chama que me queima o peito e me inquieta diante de uma folha de papel em branco.
Se fosse “O Poetinha” Vinícius de Moraes, faria mil versos de amor - para que ela me percebesse, para que ela caísse no meu laço, no meu abraço, no meu amasso, para que ela fosse a minha namorada.
Apaixonado e atordoado com a sua beleza, eu poderia entrar agora num bar e beber todas – por sua causa.
Não, não farei isto. Não sou romântico. Prefiro embriagar-me de sua beleza, estampada em suas fotografias.
Ela é realmente muito bonita e está rodeada de flores, num mundo de segredos e mistérios – prato cheio para um poeta simbolista.
Um poeta romântico a idealizaria como a musa inatingível, inalcançável.
Vivemos na mesma cidade e estamos distantes e isto me leva a invadir a produção romântica daqueles poetas que morriam jovens – de tuberculose.
Ela tem meu telefone. Por que não me liga? Por que não encurta este espaço que existe entre nós?
Percebi seu rosto e seus cabelos no exato momento em que a conheci. Buzinas e freadas de ônibus e carros e vozes mil não me impediram de ouvir e contemplar sua fala mansa e mágica.
Por um tempo, perdi-a de vista. Pensei nunca mais tornar a vê-la. “Quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas”. Pois bem, ouvi estrelas, quase plagiei Bilac, mas não perdi o senso. E, para minha felicidade, vi-a, recentemente - mais linda e mais cândida e casta.
Direis agora: - Tresloucado amigo, não tens a mínima chance de conquistá-la. Olha-te no espelho. És um mísero e reles rabiscador de papéis. És feio, barrigudo, calvo e míope. Tens uns óculos de armação preta e horrorosos no meio das fuças. A miopia te impede de ver a realidade, poeta.
A realidade, aqui, citada pelo nosso nobre amigo, - leia-se -, é a total ausência de sentimentalismo, do romantismo piegas, que levou muitos poetas românticos a estudarem mais cedo “a geologia dos campos-santos”. É o fruto, talvez, das leituras e releituras de Machado de Assis e Eça de Queiroz. Ou, mais recente, de Nelson Rodrigues.
Como sonhar não é ainda proibido, e não se lê o que anda estampado no cérebro e no coração do outro, vivo a sonhar apaixonadamente com esta deidade que perturba o meu sono.
Não direi seu nome, não direi onde mora, nem direi onde trabalha. Não quero expô-la. Longe de mim, incomodá-la em seu castelo na montanha ou nas suas horas de labuta. Ela lerá, descompromissadamente, por certo, esta minha crônica, um dia desses, e saberá que este velho e chato escritor lhe dedicou algumas pobres linhas.
Graciosa e bela, a minha musa me fez sonhar, deu sal à minha vida, me fez estar aqui, neste momento, falando baixinho, falando de amor, esquecendo até do futebol, ouvindo e plagiando O Poetinha, escrevendo essas tolices.
Plagiando o poeta português Fernando Pessoa, só as pessoas ridículas nunca escreveram poesias, crônicas e cartas de amor.
Nelson Tangerini, 56 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 Nestor Tangerini, da ALB, Academia de Letras do Brasil, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e da UBE, União Brasileira de Escritores.
nmtangerini@yahoo.com.br, n.tangerini@uol.com.br , nmtangerini@hotmail.com
http://nelsontangerini.blogspot.com/
NESTOR TANGERINI
MANON
Você surgiu-me na vida,
entrou no meu coração:
fez-se a mulher mais querida,
mas me fugiu – foi visão...
E agora, feito de abrolhos,
é meu viver perseguir
a quem eu tenho nos olhos
e não consigo atingir!
Ah! Por que você fez assim?
Ah! Volte, Manon, para mim!...
Se à tarde estou na Avenida,
é por quem sou, já se vê;
se fico até toda a vida,
é procurando você.
E entre as mulheres mais belas,
que o Figurino criou,
vejo você numa delas,
que por ali não passou...
Ah! Por que você fez assim: etc.
Se à noite saio pra vê-la,
o céu atrai meu olhar...
E vejo-a lá numa estrela,
que não se pode alcançar!
Em seu caminho de alfombra,
você me arrasta e conduz,
preso a você como a sombra
presa ao destino da luz! (*)
Autor: Nestor Tangerini
(*) Samba de Alice Alves [música] e Nestor Tangerini [letra].
Escrito na década de 40 – Século XX.
Gravação de Ronaldo Lupo
em Disco Todamérica.
Oferta da União Brasileira de Compositores, UBC.
Editora Musical Brasileira Ltda.
AQUIVO DA FAMÍLIA TANGERINI.
Você surgiu-me na vida,
entrou no meu coração:
fez-se a mulher mais querida,
mas me fugiu – foi visão...
E agora, feito de abrolhos,
é meu viver perseguir
a quem eu tenho nos olhos
e não consigo atingir!
Ah! Por que você fez assim?
Ah! Volte, Manon, para mim!...
Se à tarde estou na Avenida,
é por quem sou, já se vê;
se fico até toda a vida,
é procurando você.
E entre as mulheres mais belas,
que o Figurino criou,
vejo você numa delas,
que por ali não passou...
Ah! Por que você fez assim: etc.
Se à noite saio pra vê-la,
o céu atrai meu olhar...
E vejo-a lá numa estrela,
que não se pode alcançar!
Em seu caminho de alfombra,
você me arrasta e conduz,
preso a você como a sombra
presa ao destino da luz! (*)
Autor: Nestor Tangerini
(*) Samba de Alice Alves [música] e Nestor Tangerini [letra].
Escrito na década de 40 – Século XX.
Gravação de Ronaldo Lupo
em Disco Todamérica.
Oferta da União Brasileira de Compositores, UBC.
Editora Musical Brasileira Ltda.
AQUIVO DA FAMÍLIA TANGERINI.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
MARZULLO-PÊRA
MAURÍCIO MARZULLO
FARTURA NA MISÉRIA
Maurício Marzullo
Com a grave crise que atualmente atravessamos, de difícil solução, aliás, seria bom que volvêssemos os olhos para o interior brasileiro, fonte de nossos abastecimentos, para que sentíssemos, de visu, a seriedade deste momento.
Lá, como aqui, a dificuldade é a mesma, podendo dizer-se maior, porque, felizmente, nós, dos grandes centros urbanos, ainda contamos com que comer, enquanto os do interior, em meio à fartura, morrem à míngua, simplesmente pelo fato de os fazendeiros, ou os proprietários de grandes lavouras, preferirem despachar os seus produtos para o Rio, São Paulo, etc., a vende-los por lá mesmo, privando, até, os seus concidadãos de algumas sobras, só porque a ganância dos lucros lhes embota o espírito.
Angustura, cidade mineira da Zona da Mata, que conhecemos nas férias, é bem um atestado do que aqui se afirma.
Com uma população razoável e dócil, vive como que abandonada, faminta, em meio à fertilidade de suas terras, à riqueza de sua vegetação.
Tal descalabro, porém, poderia ser sanado, minorado, pelo menos, se o Prefeito a cuja jurisdição pertence Angustura, lhe fizesse valer os direitos, obrigando a instalação de uma feira-livre semanal, aos domingos, por exemplo, onde toda a gente pudesse adquirir o necessário a sua subsistência e sentir o amparo do Estado.
Esta providência, que já viria tarde, dever-se-ia estender às pequenas cidades de todo o Brasil, pois é por lá que pulsam os grandes corações de nossa nacionalidade.
*
Isto pode não ser engraçado; mas, que é triste, é...
Publicado na revista O Espeto, p. 4, Rio, 1o. de maio de 1947.
[Texto atualizado por Nelson Marzullo Tangerini,
sobrinho de Maurício Marzullo]
Arquivo famílias Marzullo e Tangerini:
nmtangerini@hotmail.com. , nmtangerini@yahoo.com.br
Maurício Marzullo
Com a grave crise que atualmente atravessamos, de difícil solução, aliás, seria bom que volvêssemos os olhos para o interior brasileiro, fonte de nossos abastecimentos, para que sentíssemos, de visu, a seriedade deste momento.
Lá, como aqui, a dificuldade é a mesma, podendo dizer-se maior, porque, felizmente, nós, dos grandes centros urbanos, ainda contamos com que comer, enquanto os do interior, em meio à fartura, morrem à míngua, simplesmente pelo fato de os fazendeiros, ou os proprietários de grandes lavouras, preferirem despachar os seus produtos para o Rio, São Paulo, etc., a vende-los por lá mesmo, privando, até, os seus concidadãos de algumas sobras, só porque a ganância dos lucros lhes embota o espírito.
Angustura, cidade mineira da Zona da Mata, que conhecemos nas férias, é bem um atestado do que aqui se afirma.
Com uma população razoável e dócil, vive como que abandonada, faminta, em meio à fertilidade de suas terras, à riqueza de sua vegetação.
Tal descalabro, porém, poderia ser sanado, minorado, pelo menos, se o Prefeito a cuja jurisdição pertence Angustura, lhe fizesse valer os direitos, obrigando a instalação de uma feira-livre semanal, aos domingos, por exemplo, onde toda a gente pudesse adquirir o necessário a sua subsistência e sentir o amparo do Estado.
Esta providência, que já viria tarde, dever-se-ia estender às pequenas cidades de todo o Brasil, pois é por lá que pulsam os grandes corações de nossa nacionalidade.
*
Isto pode não ser engraçado; mas, que é triste, é...
Publicado na revista O Espeto, p. 4, Rio, 1o. de maio de 1947.
[Texto atualizado por Nelson Marzullo Tangerini,
sobrinho de Maurício Marzullo]
Arquivo famílias Marzullo e Tangerini:
nmtangerini@hotmail.com. , nmtangerini@yahoo.com.br
NELSON TANGERINI
APENAS UM SONHO NO BRASIL
Nelson Tangerini
Aconteceu isto em 1985. O cantor e compositor americano James Taylor estava parado há uns dois anos ou três. Deprimido, não sentia mais prazer em compor, tocar ou cantar. O Rock in Rio fê-lo renascer. Aceitou o convite do Sr. Medina e veio cantar no Brasil.
Em suas apresentações, o público cantava You´ve got a friend e Fire and Rain num inglês perfeito.
Carinhosamente, Mr. Taylor compôs Only a dream in Rio (Apenas um sonho no Rio) e gravou-a no LP That´s why I´m here (O porquê de eu estar aqui). Canta um pedaço em português, como forma de agradecimento àqueles que cantaram suas músicas em inglês e tece comentários realistas quanto a vida cotidiana nesta turbulenta cidade do Rio de Janeiro: crianças famintas e uma polícia violenta.
A parte mais bonita é, sem dúvida, quando ele diz, em inglês: “Estranho sabor de fruta tropical, romântica língua do português, melodia numa flauta de madeira, samba flutuando na brisa de verão”. James Taylor aí descobre a romanticidade, a romanicidade e a rusticidade da língua do português, somadas à melodia tropicalista – sim, romântica língua do português, e não romântica Língua Portuguesa, magnificamente ampliada pela genialidade do povo brasileiro.
Poucos entenderam a mensagem, como poucos têm dado valor significativo à Língua Portuguesa, esta língua que chegou ao Brasil, com Cabral, a 22 de abril de 1500. Hoje, ela está enraizada em nossas vidas. Sonhamos com ela, dormimos com ela, com ela amamos. Por que negá-la, justamente agora, em meio a comemorações e a protestos contra os 500 anos de “achamento” do Brasil? Não devemos, é claro, nos esquecer de todos os erros do colonizador, da carta etnocêntrica de Pero Vaz de Caminha, sem, contudo, admirar o talento e a coragem daqueles homens rudes e destemidos que atravessaram mares nunca dantes navegados com caravelas simples, de acordo com a tecnologia da época.
Não, não se trata, aqui, de fazer defesa do idioma do colonizador português. Não se trata de fazer com que os poucos índios que ainda restam e ainda resistem, falem o língua do português. Não. Temos de defender a idéia de que os índios devem permanecer índios e puros, a preservar florestas, defendendo suas culturas e suas línguas.
Mas, aqui, do outro lado do Brasil, canta o poeta Caetano Veloso, que fala por Fernando Pessoa, não mais português: “Minha pátria é minha língua. Fala Mangueira!”
Antônio Houaiss, quando vivo, pedia amor à Língua Portuguesa – antes que falemos inglês – e sonhava com uma Comunidade Lusófona. Inspirado neste sonho, Martinho da Vila partiu para um trabalho ousado, fugindo do rótulo World Music: a gravação do CD Lusofonia, tentativa inédita de reunir os filhos da Língua Portuguesa.
O Brasil é, hoje, o maior país de Língua Portuguesa do mundo. Nossa Língua, no momento, é a 6ª mais falada do mundo. E graças a nós, brasileiros. Sendo assim, ela não mais pertence, exclusivamente, aos portugueses, mas aos brasileiros e a todos os seus usuários. É como se a Língua Portuguesa tivesse caído em domínio público dentro da Comunidade Lusófona. Tem maturidade o Brasil, portanto, para discutir os rumos da Língua Portuguesa no mundo – mesmo que reacionários portugueses dêem o contra. A Língua é minha, é de ti (leitor) e de todos nós. “E eu não tenho Pátria, e quero Mátria, e quero Frátria”.
Através desta Língua, estaremos todos juntos: irmãos de Portugal, Angola, Moçambique, Timor Leste, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde...
E o Brasil é quase todos estes países juntos (mais o índio – até aqueles que morreram em holocausto, mas que deixaram expressões que se tornaram topónimos em nossos bairros, em nossas cidades e em nossos estados). Temos tantos traços em comum. A África, assaltada por escravocratas, teve muitos de seus filhos seqüestrados e condenados ao trabalho escravo, árduo, exaustivo e desumano, sob o sol escaldante do Brasil. Os negros, também vítimas de um holocausto, deram a sua valiosa contribuição cultural ao Brasil, através da arte – vide Aleijadinho, barroco, entre outros - e de vocábulos que se espalharam pelo universo da Língua Portuguesa. Esmagados pelo colonizador, foram, como os índios, proibidos de falar suas línguas maternas. Uns poucos resistiram como puderam.
O importante, neste momento, para nós, falantes da Língua Portuguesa, é fazermos a tão sonhada Simplificação Ortográfica, respeitando, porém, as diferenças dialetais e os diversos falares em torno do idioma - a maneira de pronunciar um fonema, por exemplo. Não haverá desrespeito algum à obra de Glauber Rocha, Guimarães Rosa (tão apreciado por Eugénio de Andrade), Oswald de Andrade... Outrossim, devemos continuar a respeitar, também, as diversidades étnicas, culturais e lingüísticas existentes no Brasil e no mundo.
Desta forma, viveremos como irmãos e descobriremos a riqueza da diversidade, da Língua que falamos, e a partir daí seremos uma verdadeira Frátria. E vamos passar a perna nos americanos.
Baseado no texto A informática é nossa,
Publicado no JORNAL DO COMÉRCIO, Suplemento JC,
Pág. 4, Manaus, AM, Domingo, 12/10/1986,
e no jornal A REBÚBLICA, Suplemento JORNAL DA
CULTURA, pág. 5, Natal, RN, 25/01/1987.
Texto revisado e aumentado pelo autor em 28/01/2000.
Nelson Marzullo Tangerini, 56 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, poeta, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, da UBE, União Brasileira de Escritores, e da ALB, Academia de Letras do Brasil.
nmtangerini@hotmail.com , nmtangerini@yahoo.com.br
http://nelsontangerini.blogspot.com/
Nelson Tangerini
Aconteceu isto em 1985. O cantor e compositor americano James Taylor estava parado há uns dois anos ou três. Deprimido, não sentia mais prazer em compor, tocar ou cantar. O Rock in Rio fê-lo renascer. Aceitou o convite do Sr. Medina e veio cantar no Brasil.
Em suas apresentações, o público cantava You´ve got a friend e Fire and Rain num inglês perfeito.
Carinhosamente, Mr. Taylor compôs Only a dream in Rio (Apenas um sonho no Rio) e gravou-a no LP That´s why I´m here (O porquê de eu estar aqui). Canta um pedaço em português, como forma de agradecimento àqueles que cantaram suas músicas em inglês e tece comentários realistas quanto a vida cotidiana nesta turbulenta cidade do Rio de Janeiro: crianças famintas e uma polícia violenta.
A parte mais bonita é, sem dúvida, quando ele diz, em inglês: “Estranho sabor de fruta tropical, romântica língua do português, melodia numa flauta de madeira, samba flutuando na brisa de verão”. James Taylor aí descobre a romanticidade, a romanicidade e a rusticidade da língua do português, somadas à melodia tropicalista – sim, romântica língua do português, e não romântica Língua Portuguesa, magnificamente ampliada pela genialidade do povo brasileiro.
Poucos entenderam a mensagem, como poucos têm dado valor significativo à Língua Portuguesa, esta língua que chegou ao Brasil, com Cabral, a 22 de abril de 1500. Hoje, ela está enraizada em nossas vidas. Sonhamos com ela, dormimos com ela, com ela amamos. Por que negá-la, justamente agora, em meio a comemorações e a protestos contra os 500 anos de “achamento” do Brasil? Não devemos, é claro, nos esquecer de todos os erros do colonizador, da carta etnocêntrica de Pero Vaz de Caminha, sem, contudo, admirar o talento e a coragem daqueles homens rudes e destemidos que atravessaram mares nunca dantes navegados com caravelas simples, de acordo com a tecnologia da época.
Não, não se trata, aqui, de fazer defesa do idioma do colonizador português. Não se trata de fazer com que os poucos índios que ainda restam e ainda resistem, falem o língua do português. Não. Temos de defender a idéia de que os índios devem permanecer índios e puros, a preservar florestas, defendendo suas culturas e suas línguas.
Mas, aqui, do outro lado do Brasil, canta o poeta Caetano Veloso, que fala por Fernando Pessoa, não mais português: “Minha pátria é minha língua. Fala Mangueira!”
Antônio Houaiss, quando vivo, pedia amor à Língua Portuguesa – antes que falemos inglês – e sonhava com uma Comunidade Lusófona. Inspirado neste sonho, Martinho da Vila partiu para um trabalho ousado, fugindo do rótulo World Music: a gravação do CD Lusofonia, tentativa inédita de reunir os filhos da Língua Portuguesa.
O Brasil é, hoje, o maior país de Língua Portuguesa do mundo. Nossa Língua, no momento, é a 6ª mais falada do mundo. E graças a nós, brasileiros. Sendo assim, ela não mais pertence, exclusivamente, aos portugueses, mas aos brasileiros e a todos os seus usuários. É como se a Língua Portuguesa tivesse caído em domínio público dentro da Comunidade Lusófona. Tem maturidade o Brasil, portanto, para discutir os rumos da Língua Portuguesa no mundo – mesmo que reacionários portugueses dêem o contra. A Língua é minha, é de ti (leitor) e de todos nós. “E eu não tenho Pátria, e quero Mátria, e quero Frátria”.
Através desta Língua, estaremos todos juntos: irmãos de Portugal, Angola, Moçambique, Timor Leste, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde...
E o Brasil é quase todos estes países juntos (mais o índio – até aqueles que morreram em holocausto, mas que deixaram expressões que se tornaram topónimos em nossos bairros, em nossas cidades e em nossos estados). Temos tantos traços em comum. A África, assaltada por escravocratas, teve muitos de seus filhos seqüestrados e condenados ao trabalho escravo, árduo, exaustivo e desumano, sob o sol escaldante do Brasil. Os negros, também vítimas de um holocausto, deram a sua valiosa contribuição cultural ao Brasil, através da arte – vide Aleijadinho, barroco, entre outros - e de vocábulos que se espalharam pelo universo da Língua Portuguesa. Esmagados pelo colonizador, foram, como os índios, proibidos de falar suas línguas maternas. Uns poucos resistiram como puderam.
O importante, neste momento, para nós, falantes da Língua Portuguesa, é fazermos a tão sonhada Simplificação Ortográfica, respeitando, porém, as diferenças dialetais e os diversos falares em torno do idioma - a maneira de pronunciar um fonema, por exemplo. Não haverá desrespeito algum à obra de Glauber Rocha, Guimarães Rosa (tão apreciado por Eugénio de Andrade), Oswald de Andrade... Outrossim, devemos continuar a respeitar, também, as diversidades étnicas, culturais e lingüísticas existentes no Brasil e no mundo.
Desta forma, viveremos como irmãos e descobriremos a riqueza da diversidade, da Língua que falamos, e a partir daí seremos uma verdadeira Frátria. E vamos passar a perna nos americanos.
Baseado no texto A informática é nossa,
Publicado no JORNAL DO COMÉRCIO, Suplemento JC,
Pág. 4, Manaus, AM, Domingo, 12/10/1986,
e no jornal A REBÚBLICA, Suplemento JORNAL DA
CULTURA, pág. 5, Natal, RN, 25/01/1987.
Texto revisado e aumentado pelo autor em 28/01/2000.
Nelson Marzullo Tangerini, 56 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, poeta, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, da ABI, Associação Brasileira de Imprensa, da UBE, União Brasileira de Escritores, e da ALB, Academia de Letras do Brasil.
nmtangerini@hotmail.com , nmtangerini@yahoo.com.br
http://nelsontangerini.blogspot.com/
NELSON TANGERINI E NITERÓI
NELSON TANGERINI
NESTOR TANGERINI
ECLÍPSE
Na solidão do seu recolhimento,
dentro da noite, a lua vi cismando:
era uma freira à cela de um convento,
um rosário de estrelas desfiando...
Ao dar ali comigo, à sua frente,
Ela, sentindo em mim alguma dor,
achou de me fazer de confidente,
contando a história do seu grande amor.
Fidalga, fê-la monja o coração...
Amava muito um guerrilheiro louro
que, em batalhas de luz pela amplidão,
por Ela inda brandia a espada de ouro!
Há tardes em que vê seu bem, que, aflito,
descendo montes, retesando os músculos,
solta brados de luz pelo infinito,
que em ecos se repetem nos crepúsculos.
De longe em longe, em noite singular,
a mais linda das noites para Ela,
oculto, o Sol um beijo vem rogar,
do convento galgando-lhe a janela.
Temerosa, Ela atende ao louco amante,
que lhe fala com voz de rouxinol...
E tem-se, então, o eclipse, que cantante,
vem do beijo que a Lua dá no Sol! (*)
Autor: Nestor Tangerini
(*) Jornal das Moças, Rio, 22/6/1933
Arquivo Família Tangerini:
n.tangerini@uol.com.br , nmtangerini@yahoo.com.br ,
nmtangerini@hotmail.com
http://nelsontangerini.blogspot.com/
Na solidão do seu recolhimento,
dentro da noite, a lua vi cismando:
era uma freira à cela de um convento,
um rosário de estrelas desfiando...
Ao dar ali comigo, à sua frente,
Ela, sentindo em mim alguma dor,
achou de me fazer de confidente,
contando a história do seu grande amor.
Fidalga, fê-la monja o coração...
Amava muito um guerrilheiro louro
que, em batalhas de luz pela amplidão,
por Ela inda brandia a espada de ouro!
Há tardes em que vê seu bem, que, aflito,
descendo montes, retesando os músculos,
solta brados de luz pelo infinito,
que em ecos se repetem nos crepúsculos.
De longe em longe, em noite singular,
a mais linda das noites para Ela,
oculto, o Sol um beijo vem rogar,
do convento galgando-lhe a janela.
Temerosa, Ela atende ao louco amante,
que lhe fala com voz de rouxinol...
E tem-se, então, o eclipse, que cantante,
vem do beijo que a Lua dá no Sol! (*)
Autor: Nestor Tangerini
(*) Jornal das Moças, Rio, 22/6/1933
Arquivo Família Tangerini:
n.tangerini@uol.com.br , nmtangerini@yahoo.com.br ,
nmtangerini@hotmail.com
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domingo, 4 de dezembro de 2011
NESTOR TANGERINI
ALDA GARRIDO
MARÍLIA PÊRA
sábado, 3 de dezembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
NELSON TANGERINI
FOR ALL WE KNOW
Nelson Tangerini
Assim como naquele poema do Drummond, a vida me deu um amor nos tempos de madureza. Aquele amor que parece estar distante-perto, sem compromisso. Aquele amor que está mais perto que distante.
Ela veio de mansinho. Veio com seu toque feminino. Deu um jeitinho na minha casa, nos meus livros. Pôs ordem na minha desordem. Este quadro você põe ali. Este vaso lá. A televisão fica melhor aqui. Mas desarrumou meu coração. Por completo. Apenas a observo, fingindo não venerá-la, e ouço-a com atenção e carinho.
Depois, ela volta para sua casa, deixando-me envolvido em pensamentos. Quis pedi-la para ficar. Mas ela é uma mulher moderna e quer assim, quer a sua liberdade, viver comigo e sem mim. É difícil para um homem entender isto. Porque, como nos disse aquele filósofo alemão, temos uma corda entre o primitivo e o super-homem.
Volta e meia ela aparecia nos corredores do trabalho com sorrisos luminosos, restritos e sem compromissos, fingindo não me dar muita importância, ignorando até os meus textos, o que, de certa forma, me irritava.
Mas um dia, na rua, uma pequenina folha caiu de uma árvore e prendeu-se em seus cabelos. Com cuidado extremo, tirei a referida folha de seus cabelos, toquei-os com delicadeza e nossos olhares se cruzaram de maneira estranha. Algo nos empurrava um para o outro. Mas nos mantivemos firmes na pouca distância que havia entre nós. Talvez porque não somos mais jovens e não podíamos ficar ali, na via pública, nos beijando, nos amassando.
Depois de uma tarde de amor, num sábado de outono, ela estranhamente começou a aparecer nos meus sonhos para dizer que me ama e que cuida de mim.
Estamos abraçados. Numa “paixão medida”. Acordo e ela está ausente, distante, no seu castelo, talvez sonhando também comigo. Sinto-me um adolescente em desespero. Pego no telefone, digito seu número e ouço sua voz. Digo-lhe apenas que queria ouvi-la. Como dizia Leila Diniz, homem tem de ser durão. Nada mais disse.
Por coincidência, For all we know, uma música de James Griffin, ex-Bread, aquela banda americana que encheu nossos velhos corações apaixonados, nos idos anos 1970, de melodias arrasadoramente românticas, volta a entrar pelos meus ouvidos e não paro de cantarolá-la do quarto para a sala e da sala para a cozinha.
Soube, anos mais tarde, que David Gates, o band leader dos Bread, autor de memoráveis canções, não quis que a banda gravasse For all we know. Talvez por medo de concorrência. Os músicos brigaram feio. Resignado, Griffin, falecido em 2005, aos 62 anos, de câncer, deu a música para os Carpenters e ela estourou. E é sucesso até hoje, entre os velhos e eternos adolescentes cinquentões. Um dia desses, vi Griffin cantando sua música e dedilhando seu violão folk no Youtube.
“O amor cuida de nós dois, estranhos seres em muitos caminhos. Nós tivemos um tempo de vida para dividir, e muito para dizer. E como nós seguimos no dia-a-dia, eu a sentirei junto de mim. Mas apenas o tempo dirá. Vamos deixar a convivência dizer. Eu a conheci bem. Só o tempo nos dirá, então, e o amor deverá crescer por tudo o que sabemos.”
Outras vezes nos amamos em seu mundo. Ali estão seus retratos, seus livros, seus sonhos, sua luta, sua vida independente, sua alimentação natural..
Certa vez, ela fez um bolo de chocolate especialmente para mim. Tomamos café juntos, assistimos a um filme, a um show, ouvimos música e namoramos no sofá.
Por um momento pensei em dizer-lhe que podíamos viver juntos. Mas ela deixou bem claro que se sentia melhor vivendo sozinha, sem homem dentro de sua casa.
Em minha casa, num acesso de macho dono da fêmea, cheguei a dar um soco na parede. Essa mulher entrou na minha vida e agora me esnoba. Mas não quero que ela perceba que sinto amor e ciúmes. Sorrio friamente, diante dela, escondendo o que sinto, fingindo ser um homem moderno, compreensível.
Decididamente, acho que não sei conviver com uma mulher moderna, que quer sair com as amigas para viajar, dançar e chegar tarde.
Finjo estar despreocupado com suas andanças, mas queria ser um mosquito para visitá-la em seus momentos de liberdade.
Vez por outra, ela me diz que não está me corneando, que é fiel a mim, que eu devo ficar despreocupado. E fico?
Não lhe pergunto nada. Não pergunto a que lugar ela vai, a que horas vai chegar. Nem pergunto se está me traindo. Sei que não está. Mas tenho minhas dúvidas. Sou um homem. Não passo de um homem. Um homem moderno, tentando dizer que não sou machista e possessivo. Por isto ainda não lhe disse que estou apaixonado.
Nelson Tangerini, 56 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [clube.escritores@uol.com.br], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, da ALB, Academia de Letras do Brasil, da UBE, União Brasileira de Escritores, e da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.
nmtangerini@yahoo.com.br, n.tangerini@uol.com.br , nmtangerini@hotmail.com
Blog: http://nelsontangerini.blogspot.com/
Nelson Tangerini
Assim como naquele poema do Drummond, a vida me deu um amor nos tempos de madureza. Aquele amor que parece estar distante-perto, sem compromisso. Aquele amor que está mais perto que distante.
Ela veio de mansinho. Veio com seu toque feminino. Deu um jeitinho na minha casa, nos meus livros. Pôs ordem na minha desordem. Este quadro você põe ali. Este vaso lá. A televisão fica melhor aqui. Mas desarrumou meu coração. Por completo. Apenas a observo, fingindo não venerá-la, e ouço-a com atenção e carinho.
Depois, ela volta para sua casa, deixando-me envolvido em pensamentos. Quis pedi-la para ficar. Mas ela é uma mulher moderna e quer assim, quer a sua liberdade, viver comigo e sem mim. É difícil para um homem entender isto. Porque, como nos disse aquele filósofo alemão, temos uma corda entre o primitivo e o super-homem.
Volta e meia ela aparecia nos corredores do trabalho com sorrisos luminosos, restritos e sem compromissos, fingindo não me dar muita importância, ignorando até os meus textos, o que, de certa forma, me irritava.
Mas um dia, na rua, uma pequenina folha caiu de uma árvore e prendeu-se em seus cabelos. Com cuidado extremo, tirei a referida folha de seus cabelos, toquei-os com delicadeza e nossos olhares se cruzaram de maneira estranha. Algo nos empurrava um para o outro. Mas nos mantivemos firmes na pouca distância que havia entre nós. Talvez porque não somos mais jovens e não podíamos ficar ali, na via pública, nos beijando, nos amassando.
Depois de uma tarde de amor, num sábado de outono, ela estranhamente começou a aparecer nos meus sonhos para dizer que me ama e que cuida de mim.
Estamos abraçados. Numa “paixão medida”. Acordo e ela está ausente, distante, no seu castelo, talvez sonhando também comigo. Sinto-me um adolescente em desespero. Pego no telefone, digito seu número e ouço sua voz. Digo-lhe apenas que queria ouvi-la. Como dizia Leila Diniz, homem tem de ser durão. Nada mais disse.
Por coincidência, For all we know, uma música de James Griffin, ex-Bread, aquela banda americana que encheu nossos velhos corações apaixonados, nos idos anos 1970, de melodias arrasadoramente românticas, volta a entrar pelos meus ouvidos e não paro de cantarolá-la do quarto para a sala e da sala para a cozinha.
Soube, anos mais tarde, que David Gates, o band leader dos Bread, autor de memoráveis canções, não quis que a banda gravasse For all we know. Talvez por medo de concorrência. Os músicos brigaram feio. Resignado, Griffin, falecido em 2005, aos 62 anos, de câncer, deu a música para os Carpenters e ela estourou. E é sucesso até hoje, entre os velhos e eternos adolescentes cinquentões. Um dia desses, vi Griffin cantando sua música e dedilhando seu violão folk no Youtube.
“O amor cuida de nós dois, estranhos seres em muitos caminhos. Nós tivemos um tempo de vida para dividir, e muito para dizer. E como nós seguimos no dia-a-dia, eu a sentirei junto de mim. Mas apenas o tempo dirá. Vamos deixar a convivência dizer. Eu a conheci bem. Só o tempo nos dirá, então, e o amor deverá crescer por tudo o que sabemos.”
Outras vezes nos amamos em seu mundo. Ali estão seus retratos, seus livros, seus sonhos, sua luta, sua vida independente, sua alimentação natural..
Certa vez, ela fez um bolo de chocolate especialmente para mim. Tomamos café juntos, assistimos a um filme, a um show, ouvimos música e namoramos no sofá.
Por um momento pensei em dizer-lhe que podíamos viver juntos. Mas ela deixou bem claro que se sentia melhor vivendo sozinha, sem homem dentro de sua casa.
Em minha casa, num acesso de macho dono da fêmea, cheguei a dar um soco na parede. Essa mulher entrou na minha vida e agora me esnoba. Mas não quero que ela perceba que sinto amor e ciúmes. Sorrio friamente, diante dela, escondendo o que sinto, fingindo ser um homem moderno, compreensível.
Decididamente, acho que não sei conviver com uma mulher moderna, que quer sair com as amigas para viajar, dançar e chegar tarde.
Finjo estar despreocupado com suas andanças, mas queria ser um mosquito para visitá-la em seus momentos de liberdade.
Vez por outra, ela me diz que não está me corneando, que é fiel a mim, que eu devo ficar despreocupado. E fico?
Não lhe pergunto nada. Não pergunto a que lugar ela vai, a que horas vai chegar. Nem pergunto se está me traindo. Sei que não está. Mas tenho minhas dúvidas. Sou um homem. Não passo de um homem. Um homem moderno, tentando dizer que não sou machista e possessivo. Por isto ainda não lhe disse que estou apaixonado.
Nelson Tangerini, 56 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [clube.escritores@uol.com.br], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, da ALB, Academia de Letras do Brasil, da UBE, União Brasileira de Escritores, e da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.
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NIRTON TANGERINI / HOMENAGEM
sábado, 26 de novembro de 2011
NELSON TANGERINI E CLÁUDIO WILLER
Escritores Nelson Tangerini e Cláudio Willer. Congresso Brasileiro de Escritores. Ribeirão Preto, SP, 2011. www.ube.org.br
NELSON TANGERINI E MENALTON BRAFF
Escritores Nelson Tangerini e Menalton Braff. Congresso Brasileiro de Escritores. Ribeirão Preto, SP, 2011. www.ube.org.br
P.P. BESSA E NELSON TANGERINI
Escritores P. P. Bessa [de Divinópolis, MG] e Nelson Tangerini [do RJ]. Congresso Brasileiro de Escritores. Ribeirão Preto, SP, 16.11.2011. www.ube.org.br
terça-feira, 22 de novembro de 2011
TANGERINI É DO CATETE!
sábado, 19 de novembro de 2011
NELSON TANGERINI E AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA
Nelson Tangerini e Affonso Romano de Sant´Anna. Congresso Nacional de Escritores. Ribeirão Preto, SP, novembro de 2011. Foto de Jordemo Zaneli Jr.
www.ube.org.br
www.ube.org.br
NELSON TANGERINI E RENATA PALLOTTINI
terça-feira, 8 de novembro de 2011
SANDRA PÊRA E DINORAH MARZULLO
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
SANDRA PÊRA E DINORAH MARZULLO
TACIANO EMERSON
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
NELSON TANGERINI E AMIGOS
domingo, 16 de outubro de 2011
domingo, 25 de setembro de 2011
NESTOR TANGERINI
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
NELSON TANGERINI E ROSANI ABOU ADAL
NELSON TANGERINI E ROSANI ABOU ADAL
NELSON TANGERINI E JU PESTANA
NELSON TANGERINI E AMIGAS
SELMO VASCONCELLOS E NELSON TANGERINI
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