terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NESTOR TANGERINI

ECLÍPSE

Na solidão do seu recolhimento,
dentro da noite, a lua vi cismando:
era uma freira à cela de um convento,
um rosário de estrelas desfiando...

Ao dar ali comigo, à sua frente,
Ela, sentindo em mim alguma dor,
achou de me fazer de confidente,
contando a história do seu grande amor.

Fidalga, fê-la monja o coração...
Amava muito um guerrilheiro louro
que, em batalhas de luz pela amplidão,
por Ela inda brandia a espada de ouro!

Há tardes em que vê seu bem, que, aflito,
descendo montes, retesando os músculos,
solta brados de luz pelo infinito,
que em ecos se repetem nos crepúsculos.

De longe em longe, em noite singular,
a mais linda das noites para Ela,
oculto, o Sol um beijo vem rogar,
do convento galgando-lhe a janela.

Temerosa, Ela atende ao louco amante,
que lhe fala com voz de rouxinol...
E tem-se, então, o eclipse, que cantante,
vem do beijo que a Lua dá no Sol! (*)

Autor: Nestor Tangerini

(*) Jornal das Moças, Rio, 22/6/1933

Arquivo Família Tangerini:
n.tangerini@uol.com.br , nmtangerini@yahoo.com.br ,
nmtangerini@hotmail.com

http://nelsontangerini.blogspot.com/

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